Por qual razão Tom Delonge se separou do Blink-182?

Goste ou não, é inegável que o álbum Enema of the State (1998) da banda californiana Blink-182 moldou toda uma geração com bandas que se basearam no gênero pop punk. Membros da Sum 41, uma das bandas que acompanharam essa leva, já estiveram em situação de entrevista onde confirmaram que é impossível você ser uma banda do gênero nos anos 2000 e não ter se baseado em Blink.

Um de seus alicerces, Tom Delonge, se tornou uma figura pública com o sucesso da banda e a sua criação. Guitarrista e vocalista, era nas músicas e clipes do grupo que Tom, Mark Hoppus e Travis Barker começaram a popularizar o punk rock de forma que criaram um novo gênero baseado no mesmo.

Com divulgações em 2015 sobre sua segunda retirada oficial do Blink-182 e sendo logo substituído por Matt Skiba, vocalista e guitarrista da banda Alkaline Trio, Tom enviou uma “carta aberta” aos fãs em seu Facebook, a qual deixamos abaixo na íntegra:

Por onde começar? A verdade é sempre um ótimo lugar. Vamos por aí. Eu amo o blink e sou incrivelmente grato por tê-lo em minha vida. Ele me deu tudo. TUDO. Eu comecei essa banda na minha garagem, onde sonhava apesar das dificuldades.

Então, o que estive fazendo nos bastidores? Bem, eu tentei fazer as coisas darem certo. Tentei ajudar essa banda de umas 50 maneiras diferentes, usando meu pessoal ou o pessoal de outros e até pessoas que nem conhecia. Tentei levar adiante ideias de como poderíamos crescer e desafiar a nós mesmos a sermos uma banda melhor. Não sou do tipo que fica sentado esperando alguém fazer o trabalho. A grande reviravolta foi quando tentei organizar um encontro em Utah onde conversaríamos e resolveríamos as coisas. Rapidamente, isso foi reduzido a uma conversa de três horas no camarim de alguém num cassino fuleiro. O que eu esperava que fosse um encontro positivo longe de tudo virou uma reunião estranha num camarim fedido. Mas foi lá que contei para o Mark e Travis que, contanto que conversássemos e as coisas estivessem boas entre nós como amigos de verdade, eu me dedicaria e trabalharia apaixonadamente. Eu venero nosso relacionamento pessoal.

Então, o EP foi o teste. Meses depois, estávamos gravando essas músicas. Eu fiquei no estúdio por dois meses e eles apareceram por uns 11 dias. Não me importo de carregar o fardo, mas todos tínhamos concordados em dar 100% de si. E dessa vez, sem trazer coisas de fora. Apesar disso, conseguimos de alguma forma nos auto-sabotarmos.

Num determinado ponto, discussões e políticas nos forçaram a cancelar o EP num momento que 60 mil fãs estavam tentando comprá-lo. E isso acabou comigo. Estava tentando tanto, mas aquele momento acabou destruindo meu espírito. Eu então percebi que essa banda não conseguiria perder os anos de falta de vontade.
Foi depois desse episódio que eu prometi a mim mesmo nunca mais ficar naquela posição de novo, a depender das palavras que dizemos um para o outro. Me lembro de perguntar para um deles no telefone: ‘Você deu seu melhor, como tínhamos concordado?’. Ele ficou em silêncio. A culpa é deles? A culpa é minha? Claro que sim.

Mas nós somos em três. Todos temos responsabilidade. No fim do dia, sempre funcionamos de forma disfuncional, por isso ficamos sem conversar durante meses. Mas nós nunca fomos de conversar. Nos oito anos que estivemos juntos, sempre foi assim.

Nos últimos dois anos e meio, enquanto um colega estava sendo sondado para a gravação do disco do Blink, eu lancei uma empresa de mídia. Lancei um disco do Angels & Airwaves e como alguns de vocês sabem, tem muito mais coisas chegando. Quadrinhos, livros, um filme, etc. Os livros virão com música. Essa é uma engrenagem que já está rodando. Então vocês podem imaginar minha frustração quando foi me dado um contrato de 60 páginas do Blink dizendo que não poderia lançar um disco do Angels pelos próximos nove meses e que o disco do Blink teria que ser gravado em seis meses, o que era impossível para mim. Fazendo isso, me obrigaria a quebrar contratos com vários artistas, autores, animadores gráficos, muitas pessoas.

Eventualmente, eles liberaram o disco do Angels, mas a parte de terminar o disco do Blink em seis meses permaneceu. Todos os outros projetos que eu estava trabalhando tinham contratos. Não podia simplesmente rompê-los e acabar com anos de desenvolvimento, parcerias e compromissos num estalar de dedos.

Eu disse para o meu empresário que eu faria o Blink-182 contanto que fosse divertido e funcionasse com os outros compromissos da minha vida, incluindo minha família. Mas o Mark e Travis já sabiam de tudo isso.

Eu escrevi essa mesma carta para seus empresários um ano atrás. Mas isso começou uma discussão imensa, a maior até agora. Eu só queria que todos fizéssemos as coisas com que concordamos. Mas aquele foi o momento deles de contestar. Do ponto de vista deles, eu estava controlando tudo. Na realidade, estava com medo de me jogar na mesma situação, de repetir a experiência do EP. Também escrevi tudo isso para os empresários deles em dezembro (que me disseram que meus colegas de banda não estavam com raiva e concordaram com algumas das minhas ideias para fazer a banda crescer).

Então, imaginem minha surpresa quando uma nota de imprensa saiu ontem, sem meu conhecimento, falando sobre o futuro da banda. Aquilo foi novidade para mim.

Não é da minha natureza gerar mais negatividade sobre o legado dessa banda num lugar tão baixo quanto a internet.

Mas acho que isso é só mais um exemplo de como me diferencio dos outros. Eu sigo a luz. Sigo a paixão e faço arte. Eu passeio com meu filho, minha filha e minha esposa. No fim do dia, tudo isso me deixa triste de verdade. Triste por nós. Triste por vocês, que testemunharam nossa imaturidade.

Eu conheço eles muito bem e sei que suas ações do momento são defensivas e separatórias. Eu suponho que eles estejam fazendo isso para se protegerem de se magoarem, como todos nós fazemos. E mesmo vendo eles agindo de forma tão diferente do que conheço deles, eu ainda me importo muito com eles. Como irmãos e como velhos amigos. Mas nossa relação foi envenenada ontem. Nunca planejei desistir, só acho difícil para caramba me comprometer.

Hoje, Tom Delonge foca seus esforços em encontrar aliens e coisas vindas de “lá fora”, sabe Deus onde. Apesar de, para alguns, ser algo puramente conspiracionista e um pouco doido, suas buscas obtiveram resultados interessantes e também um tanto relevantes. A To The Stars Academy, criada por Tom, foi reconhecida, ainda em 2017, pela equipe do canal pago History Channel, quando Luis Elizondo confirmou ao mundo que o governo dos Estados Unidos possui um programa secreto para estudar a vida extraterrestre. Tudo isso rendeu na produção de uma série limitada chamada Unindentifies: Inside America’s UFO Investigation.

Em 2019, uma notícia atingiu o mundo todo quando o congresso americano confirmou que ovnis existem pela primeira vez, graças aos esforços da To The Stars Academy, fundada pelo ex-guitarrista do Blink. Tom se firma muito em suas buscas hoje pelo desconhecido e sempre reafirma em entrevistas que é atualmente uma de suas principais razões para não estar mais na Blink-182 e provavelmente não voltar à mesma tão cedo.

Apesar dos pesares, Blink-182 pareceu estar com tudo após a saída de Tom Delonge e lançou o álbum California que em sua versão Deluxe tem 25 faixas inéditas, sendo um sucesso comercial. O álbum NINE, lançado mais recentemente também trouxe uma nova leva de músicas e foi bem recebido por críticos, apesar de muitos fãs ainda não terem aceito a saída do ex-vocalista e co-fundador da banda.

Não bastando isso, inusitadamente a banda anunciou uma residência em um cassino de Las Vegas, onde apesar de você não poder jogar caça níqueis grátis, como em aplicativos, poderia assistir à banda em uma série de shows que provavelmente não aconteçam mais, devido a pandemia.

A banda Blink-182 está produzindo seu décimo álbum, com uma faixa punk rock solta previamente, e Tom Delonge continua com sua banda Angels and Airwaves, até o momento. Quando se trata desses assuntos, tudo é muito turvo, mas aparentemente Tom Delonge e Mark Hoppus, que são amigos de adolescência, já voltaram a se falar e vivem se citando no Twitter e outras redes sociais.

O futuro é incerto, mas a carta aberta de Tom publicada ao sair oficialmente da banda mostra como as relações em um grupo musical podem ser bastante turbulentas desde sempre, mesmo com melhores amigos de décadas envolvidos.